Entre flores e troncos, dois celulares, um encontro.
Uma crônica sobre delicadeza, silêncio e o que a câmera não vê de imediato
Série Ipês de Brasília
Casal sob o ipê
Um clique. Um ipê florido.
Só depois, com calma, percebi o casal ali — sob as flores, em silêncio, cada um com o celular na mão.
Só depois, com calma, percebi o casal ali — sob as flores, em silêncio, cada um com o celular na mão.
Fotografei o ipê como quem eterniza um estado de espírito.
Foi só depois, olhando as imagens com mais calma, que percebi: ali, bem ao centro, quase camuflados entre as flores e os troncos, estava um casal. Sentados sob a árvore, cada um com o celular em mãos, pareciam conversar com os dedos, talvez trocando fotos um do outro, talvez registrando o mesmo instante — cada qual do seu ângulo.
Na hora, sorri. Dei zoom. Fiquei encantada.
Fotografei o ipê florido em Brasília sem perceber o que ele me oferecia: um casal sob sua sombra, partilhando um instante de silêncio e beleza.
Era como se a árvore tivesse escolhido enquadrá-los, como se soubesse que aquele momento merecia mais do que a passagem apressada da tarde. Não sei quem eram, nem o que diziam, mas sei que estavam ali, partilhando a sombra e o silêncio florido de um ipê.
Foi romântico, inesperado e, ao mesmo tempo, tão cotidiano. Como tantas cenas bonitas que a gente só vê quando volta o olhar para o que já passou.
Desde então, guardei essa imagem como quem guarda um segredo bonito. Às vezes, a vida nos oferece poesia sem pedir nada em troca — basta que estejamos atentos para percebê-la.
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Um casal sob o ipê e a poesia escondida nas cenas que só percebemos depois |