Mostrando postagens com marcador rua da saudade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador rua da saudade. Mostrar todas as postagens

domingo, agosto 03, 2025

Entre mangueiras e lembranças

Uma crônica delicada e poética sobre reencontros com o passado. Caminhos da infância, árvores queridas, casas cheias de memória e o aconchego de um tempo que permanece dentro de nós.


Onde a infância plantou raízes
“Hoje me visitei — e fui casa, mangueira, jardim.
Fui saudade em cada passo."

Entre mangueiras e lembranças

Revisito a rua da minha infância, as mangueiras do quintal, o colégio, o alpendre...

Hoje me visitei. Vi a rua onde eu, criança, morei. Tudo igual, ao mesmo tempo que tudo mudado.

Andei pela grande avenida até encontrar a praça — aquela praça. A praça aonde eu ia com meu pai, eu bem pequena, ele todo orgulhoso da filhinha quase neta. Ele me olhava com ternura, me mostrava aos amigos dizendo: "minha princesinha". Talvez por não ter acompanhado de perto o crescimento dos filhos de seu casamento anterior, quisesse compensar redobrando carinho e atenção aos filhos da idade madura? Não sei. A existência humana é um enigma. Nem sempre agimos como pensamos ser, como queremos ou sonhamos ser.

Hoje me visitei. Vi a rua onde eu, criança, morei.

Da praça segui para a rua — aquela rua. A rua do grande colégio. Três casas abaixo, depois do colégio. Reconheci a praça, a rua, o nome da rua, o nome do colégio. Sim, era ali mesmo. Tudo tão diferente!

Em frente ao colégio — um colégio de freiras — havia uma pracinha, ladeando a igreja. Na esquina da rua, do lado esquerdo da igreja, um prédio de um ou dois andares abrigava uma família amiga de meus pais. Eu brincava com as meninas do casal. Elas iam à minha casa, e eu à delas. Dirce era o nome da mais velha. Tinha a minha idade. Brincávamos muito. Quando já crescidas, compartilhávamos sonhos, pequenos desencantos do dia a dia, e os desgostos típicos de crianças querendo mais independência do que os pais concediam.

Três casas depois do colégio. Três casas abaixo. Era lá o nosso cantinho, nosso abrigo, nosso lar. Uma mangueira na frente, do lado direito do jardim. Nos fundos, no quintal, do mesmo lado, outra mangueira. Uma delas, a da frente, talvez, era de manga comum. A do quintal — seria rosa, espada, coquinho? Meu pai amava manga rosa. Talvez fosse essa.

Subia em galhos fortes, ficava de cabeça pra baixo

A lembrança da mangueira de minha casa trouxe outra recordação. Vi, como se ainda estivesse lá, a mangueira alta, imponente, no quintal de outra casa, de outra cidade onde eu, criança, também morei. Foi lá que aprendi a subir em árvores. Subia para pegar mangas maduras, ou para me balançar, de cabeça pra baixo, pendurada pelos pés. Debaixo daquela mangueira, brincava de casinha com meus irmãos e com as crianças vizinhas. Fazíamos tendas, forrávamos o chão com alguma toalha velha e fazíamos piqueniques improvisados.

Foi naquela mesma mangueira que meu pai me salvou. Ventava muito. A ventania era forte. Ele, ao ver o perigo, saiu correndo do trabalho, atravessou a casa gritando:

— Sai daí, minha filha! Venha cá, corra!

Corri até ele. Um galho caiu exatamente onde eu estava.

Abracei memórias e reencontrei mangueiras e saudades

Rua José Hermano. Três casas abaixo do colégio. Jardim da casa enfeitado com seis pés de ciprestes — três de cada lado — formando um corredor verde até o alpendre. Alpendre. Quem ainda se lembra de alpendres?

Alpendre era o espaço da casa que antecedia a entrada, um convite ao descanso e às boas conversas. Onde se deixavam chinelos e se espantava o calor com leques improvisados. Onde se esperava a chuva passar, com cheiro de terra molhada entrando pelas frestas.

Hoje me visitei. Visitei as ruas por onde meus pés pequenos correram, as calçadas onde minha infância floresceu. Vi casas e árvores que talvez já não existam, mas que estão vivas em mim.

Hoje me visitei — e fui casa, mangueira, jardim. Fui saudade em cada passo.

------------



Acompanhe este blog e nossas redes sociais.


Instagram: @luisanogueiraautora

Para acessar minha página no Instagram, aponte a câmera de seu celular para a tag de nome abaixo:



















Facebook: Luísa Nogueira 


Pinterest: Luísa Nogueira 


#naturezaemfotosluisan 


-----------


Este blog foi criado com vias direcionadas ao meio ambiente (natureza, sustentabilidade, vida) e desde sua criação citamos e falamos sobre livros. Confira e navegue entre os posts das principais vias:



--------

 

Confira também a página Livros de Luísa Nogueira