Postagens

Com o celular na mão

Imagem
Entre cores e pétalas, uma crônica sobre a delicadeza de olhar o mundo com olhos atentos — e o celular como aliado. Série Ipês de Brasília Com o celular na mão Cor nunca falta em Brasília. E talvez por isso eu tenha essa mania de sair por aí, andando com o celular sempre à mão. Não para responder mensagens, nem para me distrair — mas para estar pronta. Porque, por aqui, a natureza adora surpreender. Às vezes é um céu que explode em laranja no fim da tarde. Outras vezes é um ipê — ou muitos — abrindo flores de forma quase teatral.  Naquela manhã, saí sem pressa. O dia ainda fresco, o céu muito azul. No caminho, no início da tesourinha da 102 Sul, perto do Hospital de Base, lá estava ele: um ipê amarelo. Grande. Exuberante. Entre tantos outros da mesma região, era ele quem se destacava. Parei. Fotografei. A florada ainda estava no auge, e o sol fazia com que tudo brilhasse um pouco mais. As pétalas, quase translúcidas, pareciam flutuar. E foi ali que percebi o quanto esse hábito — ...

O voo em queda das flores

Imagem
 O ipê floresce e se despede com elegância. Uma crônica sobre o cair das flores e a beleza que se espalha no chão Série Ipês de Brasília O voo em queda das flores Crônica poética sobre o ciclo do ipê amarelo no cerrado , sua floração intensa e o cair das flores como um voo delicado e breve Quem vê um ipê amarelo no auge da floração dificilmente imagina que o espetáculo é breve. Mas ele sabe. Talvez por isso floresça com tanta intensidade — como se cada pétala carregasse urgência. A beleza vem em ondas. Primeiro no alto, entre galhos e céu. Depois, no chão. Porque as flores, quando caem, não desabam: voam. É um voo curto, é verdade. Mas há uma elegância silenciosa nesse cair. Uma dança lenta com o vento seco do cerrado, como se o tempo tivesse desacelerado para que a gente pudesse assistir. Na última semana, vi uma dessas cenas. O ipê que eu vinha acompanhando desde julho já havia perdido dois terços das flores. O chão, em compensação, era puro ouro. Um tapete espesso, macio...

Segui o colibri

Imagem
Um instante com um beija-flor e uma revelação sobre o que nos nutre. Crônica poética sobre leveza, busca e conexão Segui o colibri Foi um instante. Mas esses instantes, tão pequenos quanto um bater de asas, são os que ficam. Vi um colibri. Não foi a primeira vez, mas naquela manhã ele apareceu como sinal. Pequeno, veloz, curioso — desses seres que parecem saídos de um sonho antigo. Voava de flor em flor com precisão e graça. Um toque aqui, outro ali. Não sugava a flor. Beijava. E foi nesse gesto sutil que algo me tocou. Pensei no néctar. Pensei no amor. E entendi, de repente, a frase que eu havia escrito dias antes: "O néctar se conecta com o amor do beija-flor." Sim. Porque ele não voa atrás de qualquer flor. Ele escolhe. Tem preferência, tem fidelidade. E quando encontra o que deseja, mergulha — leve, inteiro, vibrante. Segui o colibri com os olhos. Depois com o pensamento. Depois com o coração. E percebi: talvez a vida seja isso. Encontrar o néctar certo. Não ...

Flores que voltaram

Imagem
  Flores caídas e recolhidas. Elas voltaram à vida   Você já recolheu algo que parecia perdido — e se surpreendeu?  Crônica  sensível  sobre ipês,  flores recolhidas e o poder de pequenos  gestos para despertar o que parecia perdido.  Um texto  sobre  recomeços, cuidado e a beleza  escondida nos intervalos Flores que voltaram à vida Inspirada em um gesto simples — colocar flores de ipê amarelo em um copo com água — esta crônica  fala sobre recomeços, cuidado e beleza silenciosa Foi só uma experiência. Daquelas pequenas coisas que fazemos sem grandes pretensões — e que, por algum motivo, nos tocam profundamente. As flores de ipê estavam no chão. Amareladas, ressecadas, desfeitas como confetes depois da festa. Algumas ainda conservavam forma; outras, despetaladas, pareciam restos de um tempo que passou apressado. Mesmo assim, havia beleza ali. Uma beleza que não gritava, mas que, talvez por isso mesmo, pedia um gesto de cuidado....

Entre tesourinhas e eixões

Imagem
Na seca do cerrado, Brasília floresce. Crônica sobre ipês, arquitetura e o instante em que a cidade suspira  Em Brasília, os ipês convivem entre "tesourinhas"  e "eixões"   Série Ipês de Brasília Entre tesourinhas e eixões Brasília não tem ruas como outras cidades. Tem quadras, superquadras, entrequadras. Tem eixos — eixão, eixinhos — e as tais das tesourinhas, que são mais do que atalhos: são passagens de tempo e de olhar. Na seca, a cidade inteira se reinventa. O céu mais azul, o ar mais seco, os narizes que reclamam… e os olhos que agradecem. Porque é nessa época que os ipês tomam conta de tudo. Amarelos, roxos, brancos, rosas. Espalham-se como se tivessem sido semeados pelo vento. Não escolhem lugar: aparecem entre prédios, nos canteiros, no canteiro do meio do eixão, entre viadutos, na frente de hospitais, de supermercados, de bancas de jornal. Até a geometria da cidade parece se curvar diante da explosão de cor. Outro dia, saí para um pequeno tour fotográfi...