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Mostrando postagens com o rótulo Crônica de Luísa Nogueira

Um desencontro

Uma viagem curta, um desencontro na rodoviária, e o medo de perder quem amamos.   Um desencontro Foi nos anos 90. Minha mãe viajava quase sempre acompanhada, mas dessa vez viajaria só, sem a companhia da netinha de Goiânia, que já tinha vindo outras vezes passar parte de dezembro conosco. Tínhamos combinado com minha irmã: ela a embarcaria no ônibus, e nós a pegaríamos. Era uma viagem curtinha, apenas duas horas na estrada. De Goiânia a Brasília há duas opções: via Taguatinga ou direto, sem paradas. Há saídas de hora em hora. Claro, o direto é mais rápido, meia hora a menos. Ela sairia às quatro da tarde, e nós a pegaríamos às seis. Tudo combinado, tudo certinho. Cinco e meia, nós já estávamos na plataforma de chegada dos ônibus vindos de Goiânia. Minha filha segurava uma rosa nas mãos, esperando a vozinha que passaria dezembro conosco. Eu já de férias, minha filha também. Vozinha com oitenta e dois anos, viajando no horário escolhido por ela: — É mais fresquinho, argumentou, e nos...

Objetivos (e desafios) na Escrita Literária

Menos projetos abertos, mais livros prontos.   Ideias surgem sempre, mas terminar  um livro exige foco Objetivos (e desafios) na Escrita Literária: Escolher um projeto e ir até o fim. Escrever é um ato de amor, mas também de disciplina. Nos últimos anos aprendi, às vezes à força, que criar literatura exige mais do que inspiração: demanda foco, estratégia e uma boa dose de autoconhecimento. Hoje, compartilho com vocês meus objetivos, dificuldades e a decisão que finalmente me tirou do ciclo de projetos engavetados.    Do caos à clareza  1. Focar em um projeto por vez Não adianta: escrever cinco livros simultaneamente só leva a cinco rascunhos intermináveis. Decidi concentrar energia em uma única obra, desde a primeira linha até a revisão final, para garantir qualidade (e sanidade!).  2- Abraçar a divulgação como parte do processo Em segundo lugar, ter disposição e paciência para a etapa de divulgação: construir audiência e promover o livro exige t...

A voz que trocou de roupa

Em abril de 2022, no final do post " Goiânia, além dos aparta-mentes ", deixei alguns fragmentos de textos. Textos que escrevia enquanto "passeava" em consultórios médicos. Em um deles, a lembrança viva de meu pai me fez pensar em quantas histórias cabem numa xícara de café. Nasceu assim a crônica    A voz que trocou de roupa Uma crônica sobre memórias, mudanças e o Brasil que (nem sempre) acolhe seus intelectuais Foi num hotel em Goiânia que percebi, sem aviso, o tanto de história que me atravessa. Histórias que não conto, mas que se escondem nas entrelinhas do que sou - que aparecem quando o cheiro do café lembra a infância, ou quando um silêncio diz mais do que uma frase bem escrita. O salão do café da manhã tinha luz amarelada, e um ventilador de teto girava com esforço, como se quisesse permanecer ali apenas por cortesia. Os donos do hotel vieram conversar conosco. Um casal  gentil e acolhedor. Disseram que haviam sido jornalistas. Trabalharam durante anos em ...