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Via Natureza: O Último Pé de Pequi

Foi em 1996 que conheci um condomínio nos arredores de Brasília, ou seja, há exatos quinze anos. Poucos lotes tinham alguma construção, apesar de já ter sido realizado tudo que havia sido planejado: ruas e avenidas largas com uma boa infra-estrutura, áreas verdes de acordo com as leis de proteção ambiental e proteção das nascentes ali existentes. Pensei: - "Um pedacinho do paraíso, ainda com seu bioma quase totalmente preservado". Nos lotes, mesmo demarcados, não havia cercas e a flora de um cerrado ainda virgem era abundante. Nos poucos lotes habitados, seus moradores conservavam algumas dessas plantas e plantavam outras, geralmente frutíferas. Talvez por terem sido os primeiros e, com certeza, serem pessoas que amavam e valorizavam o verde. Em relação às plantas, havia um pouco de tudo: ipês - amarelo, branco, roxo e rosa, caju do cerrado, barbatimão, lobeira, macaúba, quaresmeira e pequi, só citando algumas.  Era realmente um pedacinho do paraíso.

Pouco a pouco (Pouco a pouco?) as plantas foram desaparecendo, dando lugar a casas e mais casas. E, pior, com moradores bem diferentes dos primeiros: Constroem casas enormes, não respeitam as árvores nativas, arrancando-as e, quando deixam algum pequeno espaço - os lotes são de 800 a 1000 m² - plantam plantas 'da moda'. Planejados ou não por paisagistas, esses jardins são de arrepiar os cabelos, com plantas totalmente fora do contexto climático ou fora de seu habitat. Para eles, plantas nativas são consideradas 'mato' e como tal devem ser 'arrancadas'.

Dias atrás, dando uma volta pelo local e querendo fazer algumas fotos de pés de pequi, vi que não havia mais pequizeiros, até mesmo nos lugares onde antes podíamos ver dois ou três pés juntos. Andei por quase todo o condomínio e finalmente encontrei um pequizeiro espremido entre uma cerca e uma rua. Era o último pé-de-pequi daquele local? Se não for o último, deve ser um dos últimos. 

Você se lembra como era seu bairro, sua comunidade rural ou urbana há mais ou menos dez ou quinze anos? Que árvores - ou plantas de um modo geral, desapareceram? O que está sendo feito para a não destruição das que restam?

Agora, 'as perguntas que não querem calar' que, aliás, estão sempre passeando por este blog : O que o Ministério do Meio Ambiente faz para orientar a população sobre a importância da flora nativa? Como conciliar habitação e preservação do meio ambiente? Como não destruir plantas nativas nos locais onde construimos? Onde estão as mudas para replante e como os órgãos competentes fazem para divulgá-las? Como não deixar mais plantas na lista de extinção? Onde estão as pesquisas que poderão nos orientar?

Precisamos com urgência de orientações e respostas.


O último pequizeiro - Foto feita em abril deste ano.

O mesmo pé de pequi em foto desta semana.

Parece que o bom pequizeiro está em perigo; vejam a terra revolvida para alguma  'obra'.

As últimas flores deste ano e pequenos frutos.

Galhos com folhas e frutos.

Flores caídas do pequizeiro.

Neste mês, na maioria dos pés de pequi, as flores já estão dando lugar aos pequenos frutos.  

O vídeo  abaixo é de uma música que homenageia os pés de pequi e demais árvores do cerrado. Foi feita pelo Professor Vivaldo e seus alunos de Taxonomia Vegetal, no Parque Estadual do Rio Preto. Nossa reverência a esse grupo. Muitos e muitos aplausus a todos eles, professor e alunos. Como diria Vinícius de Moraes, "Saravá", turminha do bem.

http://www.youtube.com/watch?v=P5APFx1Gr_E&feature=colike

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Segunda-feira, continuação da Série Orquídeas, com a delicada Laeliacattleya.

Quarta-feira, dia 12, comemorando o Dia das Crianças com cachorrinhos muito fofos.

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Você gosta de pequi? Veja quatro receitas com pequi que fiz e deixei no post “Receitas com pequi”:

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