Mulheres com dupla e tripla jornada
COP30: As mulheres e o trabalho invisível que sustenta o futuro
Com razão, repetem os ambientalistas: “Justiça climática é justiça social.”
Ontem e hoje a COP30 debateu sobre Saúde, Empregos, Cultura, Justiça e Trabalhadores. Faço aqui uma reflexão sobre a força das mulheres trabalhadoras, a dupla jornada, a agricultura familiar e o papel essencial de políticas públicas, incluindo as falas da ministra Marina Silva na construção de uma transição climática justa.
A COP30 segue com os Dias Temáticos dedicados a Saúde, Empregos, Educação, Cultura, Justiça e Direitos Humanos, Integridade da Informação e Trabalhadores. Em Belém, líderes debatem fundos, metas climáticas, transição justa e o chamado Balanço Ético Global, um lembrete de que a crise climática não é só ambiental. É humana. É social. É estruturalmente desigual.
À sombra do jenipapeiro
Enquanto isso, longe das salas refrigeradas e das comitivas internacionais, existem sombras que sustentam o mundo.
Uma delas é a sombra de um jenipapeiro em Brasília.
Foi ali que, no final de 2010, vi Gilvany. Ela arrumava sua mesa de café da manhã: toalha branca, jaleco impecável, sucos diversos - inclusive de jenipapo, pães de queijo embrulhados ainda quentes.
A cidade despertava, e ela também.
O jenipapeiro a protegia do sol e, em troca, ela cuidava dos frutos que ele deixava cair como oferta generosa.
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| O trabalho sob a sombra do jenipapeiro |
Gilvany é uma das milhões de trabalhadoras brasileiras que sustentam o país no silêncio.
Mulheres que acordam antes da luz, que alimentam filhos e cidades, que trabalham dentro e fora de casa, que vivem a dupla jornada como quem respira. Sem escolha.
A fala do ministro e a força feminina
Gilvany era - e é, parte do Brasil que trabalha antes do amanhecer. O Brasil que não tem férias, nem direitos assegurados, nem quem lhe pergunte como está. O Brasil que cozinha, limpa, planta, costura, dirige, sustenta. E que raramente aparece em fotos oficiais.
Mas agora aparece na COP30. Não com seu nome, mas com sua presença simbólica.
Ontem, quando o ministro Wellington Dias afirmou que “a crise climática é também humana, econômica, social e profundamente desigual” e que “a fome e a pobreza são marcadores da injustiça climática”, ele estava falando dela. E de todas as mulheres que, como ela, resistem à precariedade enquanto alimentam o país.
Hoje, quando a ministra Marina Silva declarou que “criar um novo ciclo de prosperidade é não deixar ninguém para trás”, eu acreditei estar ouvindo um recado direto a essas sombras invisíveis que sustentam o Brasil.
A sustentabilidade nasce do pequeno
Outras sombras que florescem são de feiras comunitárias. Um exemplo:
Em 2013, um condomínio de Brasília escolheu não se isolar e criou uma Multifeira: orgânicos frescos colhidos por agricultores familiares, artesãos transformando jornal em luminárias, sementes em colares, retalhos em histórias. Jovens indígenas tecendo com jornal o que na aldeia teciam com palha. Mostrando que o que se aprende na aldeia conversa com o mundo. Ali estava o Brasil real: agricultores familiares, pequenos produtores, artistas, cozinheiras que recusavam químicos e criavam novos sabores. Eram a prova viva do que o ministro chamou ontem de “quem cuida da terra, das águas, das sementes e da produção”.
Um Brasil vivo, plural, criativo.
A Multifeira era comércio, mas era sobretudo convivência. Renda, mas também dignidade. Economia, mas sobretudo afeto.
Ela provava, na prática, o que os discursos oficiais agora reconhecem: a sustentabilidade nasce no pequeno, no familiar, no comunitário.
E que apoiar esses trabalhadores é política climática, segurança alimentar e justiça social.
A ministra Marina Silva reafirmou a necessidade de construir “um novo ciclo de prosperidade que não deixe ninguém para trás”.
Filha de seringueiros do Acre, Marina transformou a própria vida em testemunho de resistência.
Ela fala da crise climática como quem conhece a floresta na palma da mão.
E quando diz que é preciso “apoiar os pequenos produtores e agricultores familiares”, sua voz não ecoa apenas na conferência.
Ecoa nas sombras de árvores, nas bancas de feira, nas cozinhas improvisadas, nas mãos calejadas de mulheres que sustentam lares inteiros.
Sua presença na COP30 é a prova de que o Brasil tem lideranças que entendem que justiça climática é também justiça de gênero, de renda, de território.
Justiça Climática
O mundo precisa aprender a olhar para suas Gilvanys, para suas feiras comunitárias, para os pequenos agricultores que carregam nas mãos a continuidade da vida.
Para as mulheres que, mesmo cansadas, seguem amparando filhos, cidades e esperanças.
Justiça climática começa na sombra de um jenipapeiro ou numa mesa de artesanato que transforma descarte em beleza.
Que os próximos dias da COP30 sigam assim: testemunhos vivos da Terra.
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Veja mais fotos do jenipapeiro na crônica Sob a sombra de um jenipapeiro.
Confira sobre o Cerrado, alguns posts verdes do Multivias e sobre artesanato, para complementar o que falei sobre multifeiras.
Leia a crônica COP30: O arco-íris da Terra.
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Blog Multivias | Especial COP30
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Leia o Manifesto Vozes da Terra à COP30 no dossiê Vozes da Terra👇🏼
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2- Macaúba, uma 🏝️ contra o aquecimento global
3- Quando o calor altera o futuro
5-Véspera da COP30: Um olhar do Cerrado
6-COP30: El Arcoíris de la Tierra
9-COP30: As mulheres e o trabalho invisível que sustenta o futuro
10-When Truth Comes from Nature
11-Cuando la Verdad Viene de la Naturaleza
12-Quando a Verdade Vem da Natureza
13-Mulheres, Biomas e o Tempo que Acabou de Acabar
14-COP30 en Belém: calor, bosques y la tierra que nos sostiene
15-COP30 (Parte 1): Calor, Florestas e a RAIZ do Problema
16-COP30 (Parte 2): O futuro começa com a verdade
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