COP30: As mulheres e o trabalho invisível que sustenta o futuro

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Uma mulher com jaleco branco sob a sombra de um jenipapeiro ao lado de um ponto de ônibus em Brasília
Mulheres com dupla e tripla jornada

COP30: As mulheres, a Terra e o trabalho invisível que sustenta o futuro 

“Justiça climática é justiça social.” - Marina Silva

Ontem e hoje, a COP30 debateu sobre Saúde, Empregos, Cultura, Justiça e Trabalhadores. Faço aqui uma reflexão sobre a força das mulheres trabalhadoras, a dupla jornada, a agricultura familiar e o papel essencial de políticas públicas,  incluindo as falas da ministra Marina Silva na construção de uma transição climática justa.



A COP30 segue com os Dias Temáticos dedicados a Saúde, Empregos, Educação, Cultura, Justiça e Direitos Humanos, Integridade da Informação e Trabalhadores. Em Belém, líderes debatem fundos, metas climáticas, transição justa e o chamado Balanço Ético Global, um lembrete de que a crise climática não é só ambiental. É humana. É social. É estruturalmente desigual.


A sombra do jenipapeiro 

Enquanto isso, longe das salas refrigeradas e das comitivas internacionais, existem sombras que sustentam o mundo.

Uma delas é a sombra de um jenipapeiro em Brasília.

Foi ali que, em 2011, vi Gilvany. Ela arrumava sua mesa de café da manhã:  toalha branca, jaleco impecável, suco de jenipapo, pães de queijo ainda mornos. A cidade despertava, e ela também. Duas madrugadas por dia, porque quem vive da própria força não conhece descanso. O jenipapeiro a protegia do sol e, em troca, ela cuidava dos frutos que ele deixava cair como oferta generosa.

Jenipapeiro e, em sua sombra, uma pequena mesa com quitutes, sucos e café
Trabalho sob a sombra do jenipapeiro 


Gilvany é uma das milhões de trabalhadoras brasileiras que sustentam o país no silêncio.

Sem direitos assegurados, sem férias, sem garantias, sem aplausos.

Mulheres que acordam antes da luz, que alimentam filhos e cidades, que trabalham dentro e fora de casa, que vivem a dupla jornada como quem respira, Sem escolha.

A fala do ministro e a força feminina 

E é por isso que, quando o ministro Wellington Dias afirmou ontem que “a crise climática é também humana, econômica, social e profundamente desigual” e que “a fome e a pobreza são marcadores da injustiça climática”, ele falava delas.

Quando disse que não há segurança alimentar sem quem cuide da terra, das águas, das sementes e da produção, falava da força feminina que sustenta a base da economia real.

A sustentabilidade nasce do pequeno 

Outras sombras que florescem são de feiras comunitárias. Um exemplo: 

Em 2013, um condomínio de Brasília escolheu não se isolar e criou uma Multifeira: orgânicos frescos colhidos por agricultores familiares, artesãos transformando jornal em luminárias, sementes em colares, retalhos em histórias. Jovens indígenas tecendo com jornal o que na aldeia teciam com palha.

Um Brasil vivo, plural, criativo.

A Multifeira era comércio, mas era sobretudo convivência.

Era renda, mas também dignidade.

Era economia, mas sobretudo afeto.

Ela provava, na prática, o que os discursos oficiais agora reconhecem: a sustentabilidade nasce no pequeno, no familiar, no comunitário.

E que apoiar esses trabalhadores não é caridade, é política climática.

É segurança alimentar.

É justiça social. 


A ministra Marina Silva

Hoje, na COP30, a ministra Marina Silva reafirmou a necessidade de construir “um novo ciclo de prosperidade que não deixe ninguém para trás”.

Vinda de onde veio, suas palavras carregam outra densidade.

Filha de seringueiros do Acre, alfabetizada aos 16 anos, trabalhadora doméstica na adolescência, coletora de látex, Marina transformou a própria vida em testemunho de resistência.

Ela fala da crise climática como quem conhece a floresta na palma da mão.

E quando diz que é preciso “apoiar os pequenos produtores e agricultores familiares”, sua voz não ecoa apenas na conferência.

Ecoa nas sombras de árvores, nas bancas de feira, nas cozinhas improvisadas, nas mãos calejadas de mulheres que sustentam lares inteiros.

Marina Silva é, em muitos sentidos, a própria metáfora de um jenipapeiro: firme, resiliente, generosa e profundamente ligada à terra.

Sua presença na COP30 é a prova de que o Brasil tem, sim, lideranças que entendem que justiça climática é também justiça de gênero, de renda, de território.


Justiça Climática 

O mundo olha para Belém, mas o Brasil só avançará se aprender a olhar para suas Gilvanys, para suas feiras comunitárias, para os pequenos agricultores que carregam nas mãos a continuidade da vida.

Para as mulheres que, mesmo cansadas, seguem amparando filhos, cidades e esperanças.

Justiça climática começa na sombra de um jenipapeiro.

Transição ecológica começa numa banca de suco caseiro.

Resiliência começa numa mesa de artesanato que transforma descarte em beleza.

O resto é política internacional.

Mas isso, isto aqui, é o que mantém o mundo de pé.

Veja mais fotos do jenipapeiro na crônica Sob a sombra de um jenipapeiro 


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Leia também a crônica COP30: O arco-íris da Terra


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