Quando a Verdade Vem da Natureza

Declaração sobre a Integridade da Informação sobre a Mudança Climática, lançada nesta COP30, é mais do que um documento: é uma espécie de guarda-chuva ético aberto sobre nós.


Quando a Verdade Vem da Natureza

 A Terra não mente. Mas há quem tente abafar seu canto.

O dia sempre começa segundo o nosso olhar. Já notei que, quando abro a janela sem pressa, a azaleia do quintal responde primeiro: floresce como quem diz que ainda vale a pena acreditar. Há anos escrevo sobre essas pequenas observações diárias: flores, pássaros, chuvas, halos solares, jambeiros, como se fossem bilhetes discretos da Terra. Hoje percebo que cada um deles me preparava, devagar, para este tempo em que ouvir e acreditar na natureza se tornou um ato político.

A COP30 lançou a Declaração sobre a Integridade da Informação, um marco contra as fake news climáticas.

Um dia encontrei um pássaro cantando num arbusto seco. Sabe aquele canto que parece anúncio de coisa boa, mesmo quando tudo à volta está difícil? Lembrei disso agora, na COP30, enquanto o mundo tenta organizar as palavras certas para enfrentar algo que, na verdade, não deveria exigir tanta explicação: o planeta está aquecendo. O pássaro canta apesar do galho seco; nós, apesar do barulho. Mas há quem fabrique muros para que muitos não vejam a árvore inteira. E nisso reside o maior perigo.

Porque não é só desinformação, é desorientação.

É gente duvidando da chuva que cai no próprio telhado.

É gente acreditando mais em um vídeo anônimo do que no trabalho de décadas de cientistas exaustos.

É gente dizendo que a febre do planeta é invenção, enquanto cidades inteiras ardem, alagam ou adoecem.

E eu penso no Halo Solar que fotografei em 2011, sem filtros, com pressa e com assombro. Naquela tarde, a luz do Sol desenhou um círculo tão perfeito que até um avião pareceu minúsculo diante dele. A imagem está guardada, mas o espanto ficou. Hoje, vejo que aquele halo era também um aviso: olhem para cima, para o alto, para o conjunto; o universo não mente, mas pode ser mal interpretado.

As flores do jambeiro, tímidas entre as folhas, me ensinaram que há belezas que só aparecem quando nos aproximamos. A ciência também é assim: exige proximidade, estudo, paciência, humildade. Não combina com atalhos, tampouco com certezas fabricadas. Por isso dói ver mentiras se espalhando com a velocidade das tempestades. Tempestades que, aliás, se tornaram mais frequentes, mais intensas e mais imprevisíveis.

E falando em tempestades…

A chuva fina que me acordou certa madrugada, aquela serenata perfeita que pinga aqui, pinga ali, até embalar o sono, também caiu sobre Brasília por mais de um mês. Chuvas que arrancaram árvores, chuvas que fizeram o céu ranger, chuvas que lembram que a atmosfera responde ao que fazemos com ela. Não é teoria. É vida acontecendo por cima de nossas cabeças.

Mas o problema é que, enquanto a natureza fala em voz alta, alguém cochicha mentiras ao pé do ouvido coletivo.

Foi assim na pandemia, lembram? Enquanto médicos lutavam para salvar vidas, surgiam receitas milagrosas, remédios sem eficácia, narrativas perigosas. Houve quem adoecesse não da doença, mas da mentira. Houve quem morresse por confiar em informações falsas.

E agora, de novo, tentam confundir.

Tentam dizer que o calor extremo é “normal”, que a Amazônia “pode esperar”, que a mudança climática é “exagero”, que as queimadas são “acidentes”, que o futuro não está em risco.

Tentam, inclusive, usar inteligência artificial para fabricar imagens e distorcer debates.

Por isso a Declaração sobre a Integridade da Informação sobre a Mudança Climática, lançada nesta COP30, é mais do que um documento: é uma espécie de guarda-chuva ético aberto sobre nós. Um compromisso de proteger não só o clima, mas também a verdade, esse elemento essencial que sustenta qualquer tentativa de futuro.

A ONU foi direta: sem informação correta, nenhuma meta climática será alcançada. Parece óbvio, mas não é. É preciso dizer e repetir. É preciso iluminar o que é sombra. É preciso defender a ciência como se defende uma criança: com firmeza, com cuidado, com amor.

E talvez seja justamente esse amor (pelas plantas que nomeamos, pelos pássaros que ouvimos, pelas chuvas que nos embalam, pelas flores que nos surpreendem), que possa fazer frente ao barulho das mentiras.

Afinal, desinformação também é poluição.

E a verdade, quando dita com clareza, é uma espécie de vento que varre.

Por isso escrevo esta crônica como quem abre uma janela:

deixo entrar o canto do pássaro, a chuva fina, o halo solar, o jambeiro florido, a azaleia da manhã.

Deixo entrar tudo o que é real, tudo o que é vivo, tudo o que é incontestável.

E repito, como quem planta:

defender a integridade da informação é defender o planeta.

Sem isso, não há pacto climático possível.

Sem isso, não há futuro onde nossas flores possam florescer.

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A azaleia, o pássaro, o halo solar, o jambeiro e a chuva, textos de meu blog (2011, 2013, 2014, 2015), todos dizem essa verdade: a mudança climática é real. Confira os posts nas referências. 

Referências:

¹ O dia começa segundo o seu olhar”: referência ao texto publicado originalmente no Facebook (2014) e no Blog Multivias (2021).

² “O canto do pássaro no arbusto seco”: “Via Natureza – O Canto do Pássaro” (2015).

³ Fotografia do Halo Solar: “Via Natureza: O sol neste minuto”(2011) e “Via Natureza: Dia Mundial do Meio Ambiente” (2014). 

⁴ “As flores do jambeiro”: “Via Natureza: Flores do Jambeiro” (2014).

⁵ “A serenata da chuva”: “Via Natureza: Chuva em Serenata” (2013).

 Desinformação na pandemia: evidências documentadas sobre o impacto de fake news:

⁷ Desinformação climática global:

Declaração sobre a Integridade da Informação Declaração na COP30 (2025):


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#AmazôniaViva #PorUmaCulturaDeCuidado #CrônicaAmbiental

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