sexta-feira, abril 19, 2019

E num piscar de olhos...


Bom dia mano querido
E num piscar de olhos...

Bom dia mano querido

Véspera de Páscoa e eu aqui pensando em quanto é breve essa vida. Pessoas que amamos desaparecem num piscar de olhos. Uma dor, um mal-estar, uma cirurgia, anestesia... Médicos nos fazem fechar os olhos e... adeus vida terrena, adeus filhos, adeus família.


A vida é uma fábrica de encontros e desencontros. Une pessoas, cria famílias, hoje crianças unidas, brincando num universo só delas - cada uma acreditando que seguirão assim, para sempre. Crescem, conhecem outras crianças crescidas, formam outros casais. Criam mais crianças brincando num mundinho só delas. Encontros de hoje, desencontros de amanhã. A criança vira tio, tia. Os tios tornam-se avós, bisavós. Felizes as famílias que conseguem ter suas gerações por perto. Sábios povos orientais. Ainda neste século eles conseguem unir, muitas vezes em uma só casa, diferentes gerações.

Encontros e desencontros acontecem desde a criação do mundo.

Encontros de crianças, desencontros de adultos. Meu irmão, minha irmã, meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó, meu e minha bisa... E depois? Novos encontros, sempre novos encontros. O novo hoje não será novo amanhã. Amanhã é um outro e novo dia. Ah! Se pudéssemos ser para sempre crianças! Se a criança assim pensasse, não soltaria jamais as mãos de suas crianças irmãs, porque, crescida, quer ‘seguir em frente’, ‘ver outros horizontes’, cair em novos encontros e desencontros.

E num piscar de olhos... 

E num piscar de olhos a vida se vai, foi-se o tempo bom daqueles encontros onde nada se pensa, pensar o quê? Tudo é nosso, tudo é bom, mamãe está por perto, a comidinha gostosa tá sempre ali, nossos brinquedos, mesmo feitos com caixas de papelão, são nossos, só nossos. Tudo em volta é meu, é nosso. O céu é sempre azul, as nuvens andam e desenham o que minha imaginação quer... então, pra que crescer? Mas a vida não fica ali, paradinha, só pra mim, só pra nós.

A vida é vento, ar que passa, correndo com pressa, sem olhar para trás. A vida não gosta de repeteco, pensa que não se repete, corre, corre. Corre, vida, corre, corra de si mesma. Corra mais, quilômetros ou, sei lá, anos-luz. Ela corre, não gosta de se repetir, mas se repete sempre, sempre.

E num piscar de olhos... 

Para os que ficam, restam as lembranças, a culpa por não ter podido conviver mais, amar mais, conversar mais, dividir mais nosso tempo e nosso carinho.

E num piscar de olhos... 

E num piscar de olhos, meu irmão mais velho partiu. Humberto, aquele que me protegia quando éramos crianças. Humberto, aquele que me seguia atrás de árvores, quando eu, adolescente, saí com meu primeiro namorado. Ou fazia minha irmã mais nova, então com sete anos, ir conosco ‘de vela’. Coisas incompreensíveis para hoje mas que mostravam o amor e o cuidado de irmãos. De minha parte também houve esses ‘cuidados’. Quatro anos mais nova, eu era a irmãzinha chamada de ‘cunhada’ por garotas apaixonadas por ele e, muitas vezes, não dei os recados que elas lhe mandavam. Uma vez, em um piquenique de jovens de uma pequena cidade, algumas mocinhas quase me sufocaram por eu ser a irmã dos garotos mais badalados do pedaço. Sim, eram dois, quase gêmeos, com apenas um ano de diferença entre eles. Imagino como está o coração de nosso Luiz. “Perdi meu companheiro de uma vida inteira”, ele me disse. É, irmão, perdemos a alegria, as gargalhadas, as brincadeiras de nosso irmão, nosso companheiro de infância e de mil aventuras. Onde eles iam me levavam, até em praias perigosas, às escondidas - eram mestres nisso. Humberto contava, às gargalhadas, um ‘passeio’ que fizemos em uma praia do Rio Tocantins, andando na areia, dentro do rio, até a água quase nos afogar. Eu com apenas um ano. Assim foram muitos ‘passeios’. 

Eles aprenderam construir minicasas feitas com minitijolos e eu fui uma das primeiras a ver a minicidade feita por eles. Eu, orgulhosa, olhava as casinhas... os detalhes das pequenas janelas e portas, o telhado com telhas minúsculas... eu devia pensar, “meus irmãos é que fizeram”, “meus irmãos são demais”. 

Humberto me ensinou, em aulas de desenho, a raspar as pontas coloridas de lápis e pintar com algodão a figura desenhada. “É uma mágica”, me ensinou ele do alto de seus sete, oito anos.

Quando conheceu sua esposa, foi amor à primeira vista. Não se desgrudaram mais. Imagino como deve estar a cabeça e o coração de minha cunhada e xará.

E num piscar de olhos... 

E num piscar de olhos, a vida se foi.

O rio continua formando praias, fazendo correntezas, levando as águas ao encontro de outros rios.

A vida é uma sucessão de encontros e desencontros. As águas não. As águas são encontros. Correm como o ar, formam rios aqui embaixo e, lá em cima, nuvens.

Vejo uma nuvem passando, toda azul. Parece pintada com algodão. Humberto deve ter feito uma mágica raspando pontas de lápis cor de anil. O desenho mágico da criança crescida subiu, foi lá pra cima. A criança crescida correu atrás. A criança crescida queria brincar com anjos, entre nuvens coloridas. Nuvens pintadas com raspas da ponta de um lápis azul.

Bom dia, mano querido.


Bom dia mano querido
Eu com cinco meses entre meus irmãos; um de
4 anos e o outro de 3 anos. Eu toda agasalhada.
Fazia frio? Não sei, mas a cidade onde nasci
era muito fria. Minha mãe contava que
colocou um travesseiro atrás de mim para
que eu ficasse "sentada". Saiu de perto um
 segundo para que a foto fosse feita.


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domingo, fevereiro 07, 2016

Via Vida: Um Leque




Um leque. Uma moça com um leque. Uma moça, tatuada e com um leque. Uma moça, em um ônibus, tatuada e com um leque. Uma moça, em um ônibus, sentada em minha frente, com uma tatuagem e um leque.

A moça do ônibus não sabe. Ela não sabe que seu leque passageiro trouxe lembranças de outros leques. Muitos leques. Estilos diferentes de leques. Orientais, nacionais, de tecidos, rendas e até em forma de abano, feito com palha de coco.

Foi em setembro, naqueles dias de muito calor. Em setembro, uma moça, no ônibus, um leque balançava. O leque, acenando, ia e vinha. Cenas flutuavam no vai e vem do sopro do leque e lembranças evocavam. O sopro do leque se fez brisa e a brisa me levando me fez voar. Eu voando, no vai e vem do leque, vi. Eu vi!

Vi minha mãe sentada com seu leque azul. Com seu leque rosa rendado. Com seu leque lilás. Com seu leque-abano, feito com palha de coco. Com seus muitos leques minha mãe se abanava e o sopro da brisa acariciava sua face suave.

A moça do ônibus balançava seu leque, mas a mão já não era sua. Minha mão balançava o leque. Minha mão, indo e vindo, desenhava sorrisos no rosto amado de minha mãe. Vi outras mãos - de minhas irmãs, de minha filha... Outras mãos iam e vinham, abanando, abanando. Abanando e refrescando o tempo de minha mãe no tempo conosco vivido. 

Vai e vem; vem e vai. O vai e vem do leque é o tic-tac do relógio. No ritmo. O significado, a essência, é diferente. O leque leva o tempo em brisas que passam de cá pra lá, de lá pra cá. O relógio leva o tempo pra lá. Pra lá, pra longe. O relógio diz que vai pra lá e pra cá, tic-tac, tic-tac, mas o tempo do relógio só vai. O tempo do leque é o sopro do vento. Ele vai pra lá e volta pra cá. 

Eu vi. Vi o leque de minha mãe. A moça do ônibus, sentada em minha frente, tinha a tattoo de um pequeno pássaro voando. A moça do ônibus o tic-tac levou. O passarinho, no tempo da brisa do leque, voando, voando, um segredo me contou. O segredo do amor o passarinho me contou e um leque em minha mente tatuou. Um leque colorido o passarinho tatuou. Colorido com todas as cores, como as lembranças vindas no vai e vem das brisas do sopro do tempo do leque.

Eu vi. Vi o leque de minha mãe. E com o segredo de amor, o leque em mim tatuado ficou.


Minha filha com catorze anos fazendo pose com o leque-abano de sua avó
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Miniconto baseado em fatos reais.

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sexta-feira, fevereiro 05, 2016

Via Versos: Existência




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Uma gota
Apenas uma gota
Afogou a imagem
Que a lua desenhou

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 Existência


A lua
Nas águas do mar
Uma imagem desenhou


Imagens
Nas águas do mar
Pela lua desenhadas

Imagens
Em revolto mar
Pelas gotas afogadas

Cintilantes imagens
Existindo no brilho vivo
Do amanhecer

Pálidas imagens
Esvaindo-se no trêmulo pálido
Do anoitecer


A lua
Nas águas do mar
Minha imagem
Afogou
                                  

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O poema é deste mês e ano. A foto é de outubro de 2013, do post Lua Minguante, de nosso Natureza e Viver Sustentável, parte complementar deste blog. Apenas suavizei a imagem.

                   

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quinta-feira, janeiro 21, 2016

Via Mensagens: Corações Valentes



Vivo cercada por árvores. Hoje, olhando para algumas delas, pensei: Corações valentes são como árvores bem enraizadas, não caem, não quebram; ventanias fazem suas folhas dançarem como bailarinas, mas seu tronco permanece sereno e firme.

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Reflexão que fiz olhando as árvores de meu quintal. Publicada em meu perfil do Facebook em 08 de dezembro de 2015. 
Foto: Um angiqueiro.

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quarta-feira, janeiro 13, 2016

Via Versos: Revendo Leminski

Revendo Leminski

Como passar uma tarde chuvosa
num estranho mês de dezembro? 
Ouvindo a música de uma estranha poesia?

Para acostumados ouvidos
com dó ré mi
ouvir lá sol fa é sair de si

O lá é sol é mi é si
Perfeito para o agora do hoje
é Paulo Leminski

Nota: Inspirada nos poemas 
de Paulo Leminski (Toda Poesia), escrevi Revendo Leminski. Postei no Facebook em dezembro passado. Abaixo, trechos do livro:









Capa e algumas páginas:











LEMINSKI, Paulo. Toda Poesia: Leminski 70 anosCompanhia das Letras, 2014, 424 pp. Obra completa do autor e um apêndice com textos sobre Leminski, de vários autores, nesta ordem: Haroldo de Campos, Caetano Veloso, Leyla Perrone-Moisés, Paulo Leminski, Alice Ruiz S - dois textos e Wilson Bueno. Li o livro em dezembro de 2015.

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