terça-feira, junho 17, 2025

As flores voltaram e ela também

Uma crônica sobre pausas, delicadezas e recomeços.

Fotografia: Luísa Nogueira
As flores recolhidas do chão voltaram à vida 

Às vezes, tudo o que precisamos é de um copo d’água, 

algumas flores caídas… e uma pausa para voltar a nós mesmos.

As flores voltaram - ela também

Um gesto simples. Um copo com água.
Duas flores

Ela recolheu as flores como quem recolhe lembranças.
Era fim de tarde e a cidade, entre poeira e silêncio, se preparava para mais uma noite seca.

Passou embaixo de um ipê amarelo, um dos últimos da temporada.
No chão, um amontoado de pétalas. Muitas já murchas, outras desbotadas.

Pensou em passar direto — “são só flores”, disse, quase alto.
Mas seus pés pararam.
E suas mãos, delicadamente, escolheram duas entre tantas.

Levou-as para casa sem saber por quê.
Pegou um copo — um daqueles simples, de vidro fosco — encheu de água e mergulhou as flores como se estivesse pedindo desculpas pelo atraso.

Deixou o copo na mesa. Foi fazer outra coisa.
Esqueceu.

Na manhã seguinte, algo mudou.
As flores estavam mais abertas.
Não era uma mudança gritante — era como se, discretamente, tivessem voltado à vida.

Ela se aproximou, surpresa.
Havia cor.
Havia forma.
Havia, estranhamente, uma espécie de presença.

Naquele instante, lembrou-se da amiga que não via há anos.
Do amigo que partiu sem aviso.
Das palavras que nunca disse.
E também de tudo que deixara murchar dentro de si — promessas, alegrias, desejos.
Pensou: Será que também posso voltar?

Pegou um segundo copo.
Encheu de água.
E, sem pressa, sentou-se à mesa.
Pela primeira vez em muito tempo, quis cuidar de alguma coisa — mesmo que fosse dela mesma.

Não sabia se aquele gesto era rotina ou ritual.
Mas havia, em tudo, uma intenção silenciosa.

O segundo copo não era para outra flor.
Era para si.
Como se, ao lado da delicadeza salva, ela também precisasse de uma nova chance.

Observou as flores — frágeis, sim, mas ainda inteiras.
E se deu conta de que estava fazendo algo simples, mas raro: estava cuidando.
Sem pressa, sem função prática, sem expectativa.

Quis permanecer ali.
Apoiou os cotovelos na madeira, sentiu o frescor da água nas mãos, o tempo correndo devagar ao seu redor.
Por dentro, alguma coisa também se aquietava.

Era como se dissesse a si mesma:
"Eu estou aqui."
E isso bastava.

Ali, no silêncio da manhã, entre um copo e outro, entre uma flor e outra, ela entendeu:
às vezes a vida não precisa de muito para florescer de novo.
Só precisa de um pouco de tempo.
E um lugar para recomeçar.

Mais tarde, ao sair de casa, passou novamente pelo ipê. As flores que ontem haviam caído já não estavam lá. Outras, mais recentes, agora começavam seu voo em queda.

Ela pensou em parar — talvez recolher mais algumas. Mas não. Dessa vez, apenas olhou.
E seguiu adiante, com algo leve entre as mãos.

Talvez fosse o vento.
Talvez fosse ela mesma, começando a florescer de novo.

Fotografia: Luísa Nogueira
"As flores que ontem haviam caído já não estavam
 lá. Outras, mais recentes, agora começavam
seu voo em queda." (Do conto As flores voltaram e ela também,
de Luísa Nogueira)


Fotografia: Luísa Nogueira
"Na manhã seguinte, algo mudou.
As flores estavam mais abertas.
Não era uma mudança gritante — era como se,
discretamente, tivessem voltado à vida."
(
Do conto As flores voltaram e
ela também)



Fotos de Luísa Nogueira
"Passou embaixo de um ipê amarelo, um dos últimos
da temporada. 
No chão, um amontoado de pétalas.
Muitas já murchas, outras desbotadas."
(
Do conto As flores voltaram e ela também)

Fotografia: Luísa Nogueira - fotos publicadas em 2017. 

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quarta-feira, janeiro 01, 2025

Mudanças para um Novo Ano

Fotografia: Luísa Nogueira

Mudanças para um Novo Ano 

 

Mudar é transformar. É viajar para dentro ou para fora de nós mesmos. Mudanças remexem estruturas, podem ruir ou reforçar bases. Porém são necessárias, difíceis e exigem coragem.  

 

Sempre gostei de viajar, conhecer novos lugares, pessoas, cidades, diferentes ambientes. Quando jovem, eu tinha minha base. Era para ela que eu sempre voltava. Saía de férias em excursões da faculdade ou em grupos de amigas, sabendo que depois retornaria à minha rotina. Seguir meu curso pela manhã, voltar para casa onde sempre me esperava um almoço quentinho feito pela minha mãe. Depois, rapidamente, com livros e cadernos em mãos, olhar o roteiro de aulas já preparadas nos finais de semana. Ajustava aqui e ali meus planos de aula do dia e correndo pegava a rua até chegar ao colégio onde dava aulas. Voltava feliz, acompanhada por colegas e alunos. Mas, tinha dias que o cansaço chegava e eu ficava triste.  

 

Quando eu tinha tempo, ouvia meus discos de música clássica - que eu adorava! Amava particularmente um, com piano. Chopin? Mozart? Era o tempo das coleções; eu comprava muitas: de livros de literatura a discos de música clássica. Nos dias bons, eu lia ou estudava tamborilando e cantando baixinho. Nos dias que o corpo lembrava o que é ser mulher, eu acompanhava Mozart, Bach, Beethoven, Chopin, Schubert, Tchaikovsky ou minhas cantoras ou cantores favoritos, com lágrimas lavando mágoas, exaustão, desentendimentos, decepções, frustrações. Mas isso era passageiro. Afinal, nós mulheres, renascemos dia após dia e seguimos ainda mais fortes. 

Minha mãe contava que, no seu tempo, usava-se um procedimento chamado sangria para curar certos males. Sangrias curavam.  

 

Mulheres se renovam e renascem todos os meses.  

 

Mudanças renovam o ar, a esperança e a fé. E essa fé cresce à medida que o tempo passa. Também, pudera! O tempo é sábio. Sabe que nosso corpo precisará de muita fé para continuar seu caminho. Nosso corpo diminui em tamanho e forças, mas nossa fé diz que tudo está bem, “está ótimo, você é forte, já enfrentou tanta coisa, não é uma quedinha que vai te parar”. “Não lamente, continue!” 

 

Li em algum lugar que o ser humano envelhece quando troca sonhos por lamentos. É isso mesmo? Não podemos lamentar? Sonhe, sonhe sempre e siga como se você fosse durona. Durona, mas não imortal. Como no amor: Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure(Vinícius de Moraes). 
  

 

Planetas e moradas 

 

“Na casa de meu Pai há muitas moradas, disse o Sábio. Aí penso: Se planetas forem moradas, seremos eternos moradores das galáxias? Somente na Via Láctea,300 milhões de planetas como a Terra, segundo a NASA. Planetas de todos os tamanhos e para todos os gostos. Quentes, frios, insossos. Céus, infernos, purgatórios? Oiii? E a Terra, qual é? 

 

Rodeios ou filosofia? Não sei. Queria falar de mudança real, mudança de lugar, mudança devida de vida. De minha última mudança. Necessária, porém, dolorida.  

 

Todo parto é dolorido.  

 

Muitas vezes, mudanças exigem mais que coragem. Exigem fé. Ô tempo sábio! Tira aqui, tira ali, mas compensa em fé. Ele nos dá uma mina de fé. Porque muita fé é preciso.  

 

Sonhar é preciso. Viver é preciso. Fé é preciso.  


Sejamos sementes. Sementes de fé.  


Eu, com fé, fiz mais uma mudança. Uma mudança dentro de mim.  

 

O mundo é uma roda que gira, gira e gira. São nossas mudanças. Por dentro e por fora.  

 

Sigamos com fé. E que seja um  

 

Feliz Ano Novo! 


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